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O que fazer quando você não é mais desejado

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Torresmo
mai 26, 2025
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O que fazer quando você não é mais desejado
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Não é a ausência que mais dói — é a indiferença. Há algo mais cruel do que ser rejeitado: é ser tolerado. Permanecer em um vínculo onde sua presença não provoca deslocamento, onde sua ausência não deixa rastro. Onde, mesmo estando, você não faz falta. Nesses cenários, o sujeito não sofre de dor explícita, mas de invisibilidade.

Na vida afetiva, não basta ser amado: é preciso ser desejado. Desejo não é afeto estável, é lacuna que queima, é movimento, é inquietação. É o reconhecimento de que algo falta — e de que essa falta é você. Ser desejado é ocupar o lugar da ausência que desorganiza. E o que adoece não é quando o outro vai embora. É quando ele fica — sem ver.

Lacan já dizia: "o desejo é o desejo do Outro". Queremos, no fundo, ser desejados como falta — como aquilo que desequilibra. E por isso a tibieza é tão destrutiva: não se trata de rejeição, mas de convivência sem presença. Não é que o outro te odeie. Ele apenas não te nota. E isso, paradoxalmente, dói mais.

A tibieza é o afeto que não compromete. É o gesto protocolar, a palavra genérica, a convivência sem fricção. A vida a dois como performance mínima. E nesse vazio sem nome, o sujeito se desfaz: não porque apanha, mas porque desaparece. O que paralisa não é o fim declarado, mas o vínculo que continua por inércia.

Nietzsche, ao falar da vontade de potência, sabia: o ser humano não quer apenas existir, mas impactar. Queremos ser ausência insuportável para alguém. Não como vaidade superficial, mas como afirmação existencial. Quando isso nos é negado, adoecemos. Não por carência, mas por apagamento.

Bauman já denunciava a liquidez das relações: vínculos frágeis, afetos descartáveis, promessas vazias. Hoje, o maior medo não é ser deixado. É descobrir que nunca fomos centrais. Que a nossa ausência não desestrutura nada. Que o outro simplesmente continua — sem lacuna.

A ferida que se abre aí não é apenas relacional, é ontológica. A pergunta que resta não é "por que ele se foi?" — mas "por que eu não basto?". E essa é uma pergunta que a modernidade apressa em silenciar, com seus mantras de amor-próprio genérico e superação performática.

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